Edmilson Peixoto
Autor: Edmilson Alves Peixoto
Publicado na Edição nº 20 do Jornal "O Pioneiro"

O título nos remete a uma daquelas fábulas de fundo moral, mas é apenas o cenário político brasileiro da era FHC/Lula que pretendemos abordar, onde o cargo e o tempo de mandato são algumas das comparações que ainda os igualam. Portanto, as vidas pregressas e as gestões são marcas totalmente diferenciadas entre os dois estadistas.

FHC encerra o período de sua gestão no final do século XX e Lula começa após os dois primeiros anos do século XXI, em campos opostos tanto na condição social, econômica e educacional. A formação acadêmica de cada um passa a servir de parâmetros para discursos que somente se esvaziam quando a prática assume o lugar da teoria, tornando perceptível a discrepância inigualável entre Fernando Henrique Cardoso, doutor em Sociologia capaz de falar diversos idiomas e Lula, taxado de analfabeto, conhecedor da profissão de torneiro mecânico e que ingressara na carreira política graças a sua forte atuação na luta sindical.

Lula que não compreendia e não se inseria no mundo dos letrados, compreendeu muito bem como lidar com as dificuldades de oitenta por cento de uma população pobre devido ter saído daquele meio. Encerra assim, um segundo mandato consecutivo com oitenta por cento de aprovação, refletindo as respostas daquela mesma massa esquecida pela elite para quem FHC governou e que ainda faz parte.

A gestão FHC, marcada pelo modelo neoliberal globalizante com a venda de estatais importantes como a Vale e empresas de energia e telecomunicações, ficou também conhecida por inúmeros apagões elétricos e sociais entre outras barbeiragens de poder que o doutor não tinha uma fórmula pronta nos laboratórios universitários que pudesse ter usado, nem tampouco conseguiu elaborar alguma fórmula para dirimir os problemas sociais, como o desemprego recorde, o aumento substancial do subemprego, da mendicância, da toxicomania, e outros.

Por sua vez, Lula assassina o idioma dos letrados conforme declarações de Caetano Veloso em entrevista ao jornal Estado de São Paulo: Lula "não sabe falar, é cafona e grosseiro". Mas ele foi capaz de dizer o “idioma caipira” que os brasileiros entenderam, demonstrando que “falar bonito e ser elegante” não é fórmula para assegurar aprovação da massa representada pela maioria absoluta populacional.

Não é que o Lula não tenha cometido suas barbeiragens de percurso. Inclusive, foi no seu governo a privatização de rodovias importantes, de redes bancárias e de hidrelétricas, além de não ter conseguido fazer o “Brasil ideal”, que tanto sonhamos. Portanto, entender aquilo que os números frios apontam: o “analfabeto” dando aulas de gestão ao “doutor”, mesmo que não é possível generalizar, pois nem todo doutor está fadado ao fracasso, como nem todo analfabeto terá a capacidade de falar para o povo entender. Porém, o “sociólogo” e o “analfabeto” demonstraram essa possibilidade.
Edmilson Peixoto
Autor: Edmilson Alves Peixoto
Publicado na Edição nº 19 do Jornal "O Pioneiro"

Devido à inoperância do Estado através de seus representantes nos poderes executivo, legislativo e judiciário, está se tornando prática comum, a quebra de regras e normas por causa da ineficiência deste mesmo Estado em não assegurar os direitos básicos normatizados a todos os cidadãos.

O direito de ir e vir é cláusula pátria assegurado na Constituição Federal no artigo 5º, que inclusive, inicia frisando que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Mas barrar o “ir e vir” das pessoas e seus meios, principalmente com o fechamento de vias de acesso público, tornou uma das alternativas de grupos e movimentos sociais para reivindicar direitos garantidos e que não são plenamente assegurados pelo Estado.

Amparado pela mesma legislação, a resposta da inoperância é o uso da força legítima conforme denominou Max Weber, simplesmente para manter o status quo. O abuso do poderio militar contra o mesmo povo que sustenta o Estado e que apenas cobra respostas práticas para a efetivação dos direitos fundamentais já normatizados. Mas, quando os cidadãos quebram as regras, logo vem a ordem de cima e ordena: “peguem esses idiotas e enterrem”, como fizeram em Eldorado do Carajás, Corumbiara, e tantos outras localidades deste “país democrático”. 

A educação, um direito de todos, amparado pela Constituição Federal, é um desses direitos fundamentais que ocupa lugar de destaque entre os demais direitos humanos porque é essencial e indispensável para o exercício da cidadania, pois nenhum dos outros direitos civil, político, econômico e social podem ser praticados por nenhum indivíduo sem que tenha recebido o mínimo de educação. 

Portanto, agora, até professores, alunos e pais já começaram a proibir o direito de ir e vir só para chamar a atenção do poder público e pedir socorro para que não venham a ficar soterrados a qualquer momento sob os escombros de antigas escolas públicas, condenadas e sem condições de acomodar seres humanos devido às péssimas condições em que se encontram. Mas, policiais, que também são pais de alunos destes vergonhosos estabelecimentos de ensino, em nome do Estado, estufam o peito, apontam os cassetetes e dizem arrogantes que a proibição do direito de ir e vir é crime, como se negar o direito a educação e tantos outros não seja crime.

Afinal de contas, quem está burlando as regras: o cidadão ou o Estado? Sabemos que ao cidadão restam poucas alternativas para reivindicar, enquanto o Estado exerce o poder coercitivo para negar esses mesmos direitos. Portanto, seria melhor não quebrar normas instituídas, mas enquanto o Estado não cumprir o seu papel, cabe aos cidadãos e aos movimentos sociais quebrar as regras estabelecidas para ter a garantia da efetividade dos seus direitos.