Edmilson Peixoto
Imagine as diferentes construções, analogias e significados que cada sociedade faz em torno da morte das pessoas! As “comemorações” dos americanos em virtude do assassinato do fundador e líder da rede Al-Qaeda, Osama Bin Laden, precisam ser analisadas, levando em consideração dois aspectos: a relação de perda provocada por um dos lados e o contentamento pelo fim trágico de alguém quando paira sobre os opostos. 

Dependendo do ponto de vista e da relação da vida do indivíduo, a morte relaciona-se a algo nunca aceitável e é sempre lamentável quando ela aparece. Mesmo que tenham que enfrentá-la, nem todos tem a coragem de encontrá-la e buscam refúgio à medida que pode. Ou seja, a morte é algo aterrorizador e não deveria ser motivo de alegria prá ninguém que a vive ou presencia-a, mas, depende justamente da relação intrínseca ou extrínseca dos seres humanos. 

Nos preceitos religiosos, a crença e a obediência dos fiéis aos ensinamentos e dogmas das igrejas, referem-se a morte como uma elevação a vida eterna, no sentido de amenizar a perca irreparável que qualquer membro do grupo que “partir desta”, possa provocar aos demais que permanecerem. 

Com isso, manifestações diversas são praticadas desde os processos crematórios com o lançamento das cinzas ao vento para o indivíduo cair no esquecimento do grupo; ou entre outros, as cinzas são guardadas como presença eterna junto aos familiares; uns ainda abastece o morto com todos seus pertences e alimentos; pode-se ainda entre alguns grupos religiosos, ter o morto reencarnado em alguém que ainda vive. Na nossa cultura, o choro, o sepultamento com acompanhamentos e visitas em datas específicas, são práticas comuns, mas todos os rituais de morte e luto têm similaridades, incluindo: unção, velório, enterro e orações, cultos, missas entre outros. Portanto, festejar a morte pelas ruas como um troféu conquistado numa disputa é no mínimo divergente das práticas exercidas. 

As comemorações neste caso é uma manifestação que contraria o choro ou o silêncio por respeito à morte de alguém, de acordo com a construção do sentimento envolvido. Neste aspecto, a morte pode ser sentida como uma derrota pela perda de alguém do grupo de convívio, ou simplesmente uma vitória pelo fim de alguém não desejado por opostos, onde se encaixa Bin Laden, o “vizinho agourento”, o “parente desviado”, o inimigo. Ou seja, todos aqueles que contrariam as regras de convivência grupal. 

No caso de Bin Laden, será que os americanos “riram melhor”, porque “riram por último” pelas ruas e avenidas ou foi a alegria dos terroristas pela morte de milhares de pessoas de maneira mais reservada? Até quando pessoas e grupos estarão exibindo a morte como trunfo por vitórias em batalhas que nunca terão fim, porque tem como diretriz a luta por poder econômico e político para poucos em nome do sofrimento de muitos? 

Uma coisa é certa: não é só o que aqui se faz, que se paga, mas até mesmo depois da morte muitos ainda têm que pagar. Isso depende somente da construção das virtudes e dos valores que a cada dia somos levados a praticar para não servirmos de troféu e escárnio no nosso pós-morte.