Edmilson Peixoto
Autor: Edmilson Alves Peixoto
Publicado na Edição nº 36 do Jornal "O Pioneiro" (...)

Já decidi que votarei “sim” no plebiscito que definirá sobre a criação dos estados de Carajás e do Tapajós como desmembramento do Pará. Porém confesso que esta é uma atitude muito mais bairrista de minha parte e da parte de muita gente, pois não se vê perspectivas de melhorias na qualidade de vida do povo em desmembrar só por desmembrar sem alterar o comportamento político e a legislação hipócrita que beneficia apenas o capitalismo selvagem neste país.
Primeiro, a Lei Kandir é para nós um dos maiores entraves ao desenvolvimento humano, porque foi instituída para desonerar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, os produtos primários e industrializados semielaborados e serviços exportados, ocasionando perdas irreparáveis na arrecadação de impostos aos estados e municípios. Como exemplo, podemos citar os royalties minerais que variam de acordo com o tipo do produto entre 0,3% e 3%, da arrecadação líquida, servindo apenas para gerar altíssimos lucros às empresas exportadoras de produtos primários, em especial os minerais.
Para ampliar ainda mais a miséria do povo, a “esmola” denominada royalty, parece ser compreendida como “responsabilidade social” por parte dessas empresas, que apenas sucateiam os municípios e destroem seu ambiente, enquanto seus povos não têm nem energia elétrica de qualidade que possa contribuir no desenvolvimento local.
Segundo, não adianta alterar a Lei Kandir se não houver um combate radical à corrupção nos “podres” poderes públicos, pois os representantes do povo, a cada dia se envolvem em mais escândalos, inclusive, muitos deles por uso indevido das “esmolinhas” e de outros recursos tão escassos. Por isso, o processo de emancipação deverá estender também para a representação política e eliminar essa que já existe, oportunizando que novos indivíduos sejam capazes de administrar o bem público para o público através da participação popular e não apenas servindo de “fantoches” às empresas multinacionais.
Mas, enquanto o objetivo é desmembrar Carajás e Tapajós, notamos que haverá apenas oportunidades para que “uma centena de espertos” se beneficie nestes novos estados, pois eles serão os futuros atores que comandarão e darão as cartas em nome da “luta” e do desenvolvimento humano, o que não acredito que isso venha a ocorrer. Em contrapartida, reduz distâncias para que possamos indicar e acompanhar nossos representantes mais de perto e com a divisão pode surgir algumas “migalhas” a mais.
Por outro lado, não desmembrar é o anseio de tantos outros espertos tradicionais do Pará que só conseguem chegar até Carajás ou Tapajós, quando é tempo de eleições e depois desaparecem com os projetos utópicos que seriam desenvolvidos por meio de políticas públicas, mas só utilizados no campo do discurso que é uma ferramenta estratégica que sempre é utilizada na conquista de votos. O pior de tudo isso é que muita gente está embarcando na defesa do “não” como se no Pará houvesse soluções para minimizar a miséria crescente de seu povo, seja da capital ou do interior.
Assim, ficamos cada vez mais atordoados entre a cruz e a espada por causa do bombardeio de vantagens apresentadas por cada lado. Mas, o que existe mesmo, é um grande jogo de interesses por traz de cada “espertalhão”, enquanto a tão prometida melhoria na qualidade de vida das pessoas deverá continuar somente no campo das promessas e ficar assim dentro de qualquer fronteira política. Ou seja, totalmente inexistente.
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Parabéns! O texto retrata com fidelidade as incertezas e "espertezas" envolvidas neste debate sobre a possível divisão do Pará. Ainda não sei o que é pior, a crianção de novos estados com toda a instabilidade de uma nova administração ou continuar com a falta de perspectiva da atual estrutura administrativa do estado? Por exemplo, quanto os municípios perderam (e contiuam perdendo) em função da corrupção na ALEPA? Em caso de criação de novos estados, como evitar que isso se repita? Quem ganha e quem perde com a divisão ou manuntenção do Pará?
    Essas coisas ninguém discute e teremos que ir as urnas!!!
    Werventon